A Casa dos Ecos Eternos

 

Há muitos anos, em uma pequena cidade esquecida pelo tempo, existia uma casa que todos temiam, mas que ninguém se atrevia a explorar. Diziam que ela estava amaldiçoada e que os que entrassem nela jamais sairiam. O lugar era conhecido como "A Casa dos Ecos Eternos". Construída em um terreno que muitos acreditavam que fora o local de antigos rituais pagãos, a casa foi abandonada há décadas, mas sua presença ainda parecia assombrar as redondezas.

Felipe, um jovem corajoso e curioso, sempre se interessou por mistérios. Ele ouviu rumores sobre a casa quando se mudou para a cidade. Intrigado, decidiu investigar. Seus amigos, ao saberem de sua decisão, tentaram dissuadi-lo. "Não é só uma história, Felipe", disseram. "As pessoas que entram nessa casa nunca mais são vistas. Alguns dizem que ficam presos lá, vagando pelas sombras."

Mas Felipe, impetuoso, não acreditava nessas superstições. Ele amava desafios, e a ideia de descobrir o que realmente acontecia na tal casa só o motivou ainda mais.

Na noite em que decidiu ir, o céu estava nublado e o vento assobiava entre as árvores. A casa estava situada no final de uma estrada de terra, longe do centro da cidade. Ao chegar lá, Felipe percebeu que o lugar exalava uma sensação de abandono. A estrutura da casa estava deteriorada, com janelas quebradas e portas rangendo, como se estivessem à espera de algo… ou de alguém. Mesmo assim, ele avançou, com a lanterna nas mãos e o coração batendo mais rápido.

Imagem feita por Inteligência Artificial
A entrada estava entreaberta, e a porta se abriu com um rangido ensurdecedor, como se estivesse protestando pela presença de alguém. Felipe entrou. O interior da casa era ainda mais decadente do que ele imaginara. O cheiro de mofo e madeira apodrecida invadiu suas narinas. A cada passo que dava, o piso de madeira estalava sob seus pés, e o som ecoava por todo o lugar, como se a própria casa estivesse sussurrando para ele ir embora.

Mas ele não iria. Não ainda.

Felipe começou a explorar os cômodos, observando com atenção as paredes sujas e cobertas de marcas antigas. O que o incomodava era a sensação de que algo o observava, mas quando olhava para trás, não havia ninguém. A cada corredor que percorria, sentia uma presença, algo que se movia apenas nas sombras. Mas ele não se deixava abalar. "É só minha imaginação", pensava.

Foi então que ele chegou à escada que levava ao segundo andar. Ela estava coberta por uma camada espessa de poeira, e o corrimão estava quebrado. Felipe hesitou por um momento, mas o desejo de descobrir mais sobre o lugar o empurrou para cima. Quando colocou o primeiro pé no degrau, uma sensação de frio percorreu sua espinha. Algo estava errado, mas ele não conseguia identificar o quê.

O segundo andar estava em um estado pior do que o de baixo. Havia portas fechadas, e uma delas estava ligeiramente aberta. Ele se aproximou, mas antes de entrar, ouviu um sussurro baixo, quase imperceptível. "Não entre...".

Felipe parou por um segundo, seu corpo congelado, mas então algo o impeliu a empurrar a porta. Quando entrou, a sala estava vazia, exceto por um espelho grande encostado na parede. O reflexo dele era distorcido, com cores que pareciam se mover, ondulando como se estivessem vivas. Ele deu um passo em direção ao espelho e o que viu em seu reflexo o fez paralisar.

Em vez de seu próprio rosto, ele viu uma figura pálida e de olhos vazios, um espectro que o observava fixamente. Felipe deu um passo para trás, assustado, e o reflexo fez o mesmo. Então, com um movimento rápido, a figura sorriu. Um sorriso torto, macabro, que fez Felipe sentir o estômago revirar.

Quando ele tentou se afastar, o reflexo o seguiu. Ele tentou gritar, mas sua voz não saiu. A figura no espelho agora estava se aproximando, esticando suas mãos em direção ao vidro. De repente, a superfície do espelho se distorceu como água, e uma mão fria e cadavérica emergiu de dentro, agarrando-o pelo pulso com força inumana.

Felipe tentou lutar, mas a força que o puxava para dentro do espelho era imensa. Ele sentiu sua visão escurecer e sua respiração se tornar pesada. O medo tomou conta dele, e ele percebeu que estava sendo sugado para um outro lugar, um lugar onde o tempo não existia e as regras da realidade eram diferentes.

No momento seguinte, ele se viu em uma sala escura e sem paredes. Apenas um vazio profundo o cercava. Ele não sabia mais se estava dentro do espelho ou em algum outro plano de existência. Tudo o que podia ouvir era um eco incessante, como se a casa estivesse sussurrando seu nome, chamando-o.

"Felipe... Felipe... Felipe..."

A voz vinha de todos os lados, mas ele não conseguia identificar sua origem. Ele tentou gritar, mas sua voz se perdeu no vazio. Então, percebeu algo terrível: ele não estava mais sozinho. Ao seu redor, figuras sombrias começaram a surgir, seus rostos distorcidos e vazios, como se fossem reflexos de almas perdidas, condenadas a vagar por aquele lugar sem fim.

E então, uma a uma, as figuras começaram a sussurrar, todas ao mesmo tempo, uma única palavra que Felipe não podia escapar.

"Fique."

Foi nesse momento que ele entendeu. A casa, o espelho, o vazio... tudo fazia parte de uma armadilha. Aquele lugar não era apenas uma casa assombrada; era uma prisão. Uma prisão feita de eco e tempo, onde os que entravam nunca mais poderiam sair. E agora ele era parte dessa eternidade, destinado a caminhar sem fim pelas sombras, preso à casa dos ecos eternos, que jamais o deixaria partir.

Felipe nunca mais foi visto. E a casa, como uma boca faminta, aguardava o próximo curioso que ousasse cruzar sua porta.

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