A Casa sem Fim


 A Casa sem Fim

Sempre achei que era uma pessoa racional. Não acreditava em lendas urbanas, fantasmas ou qualquer outra coisa que desafiava a lógica. Tudo que me interessava eram as coisas concretas, o que podia ser visto e tocado. No entanto, minha vida mudou quando eu e alguns amigos decidimos explorar um lugar que parecia promissor. Uma velha casa abandonada, isolada nas colinas. O que poderia dar errado?

Eu estava cético, mas a ideia de uma aventura emocionante, em um lugar misterioso, me atraiu. A casa estava longe o suficiente da cidade para que ninguém se importasse muito com ela, mas ainda assim, havia rumores sobre ela, sussurros no vento, coisas que ninguém poderia explicar. Decidimos que seríamos os primeiros a explorar aquele lugar, a investigar o que tanto intrigava os outros.

Imagem feita por Inteligência Artificial

Chegamos até lá em uma tarde de inverno, o céu coberto por nuvens escuras que pareciam carregar um presságio. A casa se erguia no topo de uma colina, isolada e silenciosa, como se o mundo ao redor tivesse se esquecido dela. O som dos nossos passos ecoava pela estrada de terra enquanto subíamos até a entrada. Quando chegamos à porta, algo parecia… errado. A casa parecia estar esperando por nós, como se estivesse viva.

Entramos, e logo a sensação de desconforto tomou conta. O cheiro de mofo e madeira apodrecida invadia nossas narinas. O interior estava em completo abandono, com móveis cobertos por lençóis empoeirados e as paredes manchadas de um tom amarelado. A casa estava escura, exceto pela luz fraca que se filtrava através das janelas quebradas.

Tudo parecia normal, mas ao mesmo tempo… não estava. Uma estranha sensação de que algo observava nos seguia a cada passo que dávamos. Fui o primeiro a subir as escadas, com o som de meus pés rangendo no velho piso de madeira. A casa não estava apenas velha, estava... doente. Cada passo parecia causar uma onda de dor que se espalhava pelas minhas costas.

No andar de cima, nos deparamos com vários quartos, todos semelhantes, cada um mais vazio e empoeirado que o outro. Até que encontramos algo curioso. Uma porta, pequena, quase sem importância, em um canto afastado do corredor. A porta não estava trancada, mas sua aparência era estranha. O pomo de ferro estava enferrujado e a madeira parecia ter se deformado com o tempo, como se a porta tivesse sido aberta muitas vezes, mas por alguém… ou algo que não podia ser identificado.

Abrimos a porta, e o que vimos nos fez parar. Era uma escada. Mas não era uma escada normal. A escada descia em espiral para um espaço desconhecido. A primeira coisa que percebi foi que ela parecia mais funda do que a casa deveria permitir. Parecia… infinita. Sem hesitar, entramos, um por um. Eu estava curioso, ainda sem saber que aquele seria o maior erro da minha vida.

A escada era escura, e o ar dentro daquele túnel parecia pesado, quase impossível de respirar. Cada passo que dávamos era amplificado, ecoando, como se a casa estivesse nos ouvindo. Quanto mais descia, mais eu sentia uma sensação crescente de angústia. Algo não estava certo. Cada curva da escada parecia nos levar para mais longe de qualquer senso de realidade que eu tivesse conhecido.

Finalmente, chegamos a um lugar que não fazia sentido. O que parecia ser o fim da escada era, na verdade, outro corredor. Mas esse era diferente de tudo o que havíamos visto até então. As paredes estavam cobertas por marcas estranhas, quase como se algo tivesse arranhado a superfície, como garras. E o mais perturbador: o chão, em alguns pontos, parecia se mover, como se estivesse vivo. Isso não era uma casa. Não era um lugar normal. Eu não sabia o que era, mas não estava sozinho.

Decidimos voltar, mas não conseguíamos encontrar a escada. As paredes pareciam se distorcer à medida que andávamos, mudando, criando novos corredores, novos quartos. Cada porta que encontrávamos nos levava mais para dentro daquele labirinto interminável. Nós tínhamos saído pela porta certa, eu tinha certeza disso, mas não conseguíamos voltar.

Foi quando, em uma das salas mais distorcidas, encontrei algo que me fez parar. Havia uma janela, ou o que parecia ser uma janela, mas o que via do outro lado não era o exterior. Era mais como… outra casa. Ela se estendia infinitamente, como se a casa fosse maior do que a realidade permitia.

Foi nesse momento que começamos a ouvir os sussurros. Vozes baixas e distorcidas, que pareciam vir das paredes. E então, o chão tremeu. Algo estava se aproximando, uma presença imensa, como se estivesse acordando, algo que havia estado adormecido ali por muito tempo. Nós começamos a correr, mas não havia mais saída. O corredor se expandia para sempre.

Um de nós desapareceu. Simplesmente… sumiu. No momento em que ele estava ao nosso lado, ele não estava mais lá. Nós chamamos seu nome, mas só ecoava. O terror tomou conta de mim. A casa estava viva, e ela estava nos engolindo um a um.

Eu não sei quanto tempo passou desde aquele dia. A casa se tornou o único lugar que eu conheço. Cada passo é uma tentativa inútil de encontrar a saída, mas o labirinto nunca termina. Os outros amigos, os que ainda estão comigo, são sombras agora, figuras distorcidas que parecem mais com eco do que com pessoas.

E a casa… ela se alimenta. Ela se move, ela muda, e ela espera. Está esperando para que mais alguém entre, para que mais alguém perca o caminho de volta. Para que a casa sem fim cresça ainda mais.

Agora, eu sou uma parte dela. E talvez você também o seja, caso decida vir.

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