Onde Moram as Vozes

Sempre existiu uma casa esquecida no fim da Estrada do Cedro. Um casarão antigo, de dois andares, com janelas altas, persianas partidas e uma pintura verde que o tempo fez questão de apagar quase por completo. Muitos chamavam de “Casa Verde”, mas ninguém falava sobre ela com frequência — como se o nome fosse o suficiente, e tudo além disso fosse melhor deixar quieto. Estava ali antes de qualquer um lembrar, e provavelmente ainda estará quando todos tiverem esquecido. Eu sempre fui curioso. Inquieto. Um pouco teimoso, talvez. Ouvi histórias quando era criança — histórias mal contadas, feitas de silêncios e olhares evasivos — sobre gente que entrou ali e não saiu mais. Sobre luzes acesas em janelas sujas. Sobre vozes que se ouvem quando o vento para. Naquela tarde nublada de outubro, com o céu cor de ferro e o ar parado, alguma coisa me puxou até lá. Não por coragem, nem por desafio. Fui por um tipo de ausência... uma vontade sem nome. Como se parte de mim já estivesse lá den...