O Encontro Sombrio

 

Era uma noite fria de 14 de fevereiro, o Dia dos Namorados. A cidade estava coberta por uma névoa espessa que não parecia querer se dissipar. As ruas, que normalmente eram iluminadas por lâmpadas quentes e acolhedoras, agora pareciam apagadas, dando uma sensação de desolação. Mas, para Laura e Marcos, nada disso importava. Eles tinham se conhecido em uma festa no ano passado, e depois de um ano de trocas de olhares e promessas tímidas, finalmente marcaram um encontro para comemorar a data.

Laura tinha 23 anos, uma jovem de cabelo longo e castanho, olhos verdes e um sorriso encantador. Marcos, por sua vez, era mais reservado, mas muito gentil. Ele havia sido o tipo de garoto misterioso que, desde o início, despertou em Laura uma sensação de intriga.

Naquela noite, Laura usava um vestido vermelho, que contrastava com a névoa gélida que cobria a cidade. Ela estava ansiosa, mas também com uma sensação de desconforto crescente, como se algo estivesse prestes a acontecer. Ela olhou para o relógio e percebeu que Marcos ainda não havia chegado. Eles haviam combinado de se encontrar em um restaurante local, mas ele ainda não estava lá.

Ela decidiu esperar, sentando-se à mesa que eles haviam reservado. O restaurante estava quieto, como se a névoa também tivesse invadido o ambiente. Ela observava pela janela, mas o que ela via não era reconfortante. As ruas estavam vazias. Nenhuma alma à vista. Apenas sombras longas se esticando sob a luz fraca de lanternas públicas, que tremiam como se estivessem em agonia. Algo estava errado.

Marcos finalmente apareceu, mas sua presença não trouxe o alívio esperado. Ele estava pálido, como se tivesse visto um fantasma. Seus olhos estavam profundamente marcados por olheiras, e ele parecia estar tenso, inquieto, com um olhar furtivo, como se estivesse sempre esperando por algo.

“Desculpe o atraso”, disse ele, sem sorrir. “Estava... preso no trânsito.”

Laura, com um leve sorriso, tentou disfarçar sua preocupação. “Não tem problema. O importante é que estamos juntos agora.”

Eles se sentaram e o jantar começou. A comida estava deliciosa, mas algo na conversa deles estava fora do lugar. Marcos estava mais distante do que o normal, e Laura começou a se sentir cada vez mais incomodada com a atmosfera que parecia se fechar ao redor deles.

De repente, o clima ficou mais pesado. A música suave que tocava no fundo do restaurante desapareceu, e o som do vento cortante fora da janela parecia amplificado. Marcos parecia ouvir algo. Algo que Laura não conseguia distinguir.

“Você... está ouvindo isso?” Marcos perguntou, sua voz baixa e ansiosa.

Laura olhou ao redor, mas tudo parecia em silêncio. “O que você está ouvindo?”

“Eu não sei... algo... algo estranho. Eu não sei o que é, mas é como se algo estivesse nos observando.”

O desconforto de Laura aumentou, mas ela tentou se manter calma. “Deve ser só o vento. Não é nada.”

Mas Marcos não parecia convencido. Ele olhou para a porta do restaurante com um olhar fixo, como se esperasse alguém entrar. Algo estava errado, e Laura não conseguia mais ignorar. O restaurante, antes acolhedor, agora parecia um labirinto de sombras e sussurros.

Foi quando o garçom, um homem de aparência sem emoção e olhos vazios, se aproximou da mesa. Ele entregou uma pequena caixa de presente, sem dizer uma palavra. Laura franziu a testa.

“Quem deixou isso aqui?” Ela perguntou, desconcertada.

O garçom apenas inclinou a cabeça e se afastou, sem uma explicação.

Marcos olhou fixamente para a caixa. Sua expressão ficou ainda mais tensa. “Não abra. Não abra essa caixa.”

Laura hesitou, mas a curiosidade a impulsionou a abrir. Quando a tampa se ergueu, um cheiro de podridão invadiu o ar, e dentro da caixa estava uma boneca de porcelana, com olhos vazios e um sorriso grotesco. Sua pele era pálida e rachada, e o cabelo, preso em um rabo de cavalo desfeito, parecia emaranhado e velho. O detalhe mais perturbador era o nome, gravado em um pedaço de papel preso à boneca: "Laura".

Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Como isso podia ser? Era uma coincidência? Mas por que seu nome estava ali? Laura olhou para Marcos, buscando explicações, mas ele estava pálido, quase em estado de choque.

“Isso... isso não deveria estar aqui”, Marcos murmurou, engolindo seco.

De repente, o som das portas do restaurante batendo soou, e as luzes começaram a piscar. Uma sombra longa e escura se projetou em direção à mesa deles. Quando Laura olhou para a porta, o garçom estava parado ali, mas seu rosto agora estava distorcido, uma máscara grotesca, como se estivesse se desintegrando diante dela. Seus olhos estavam negros, sem vida.

“Vocês não deveriam ter vindo”, disse o garçom com uma voz estranhamente distorcida. “Este não é o seu destino.”

Marcos, em pânico, puxou Laura pela mão e tentou fugir, mas as portas estavam fechadas. A cada passo que davam, as paredes pareciam se aproximar. O ambiente estava se tornando cada vez mais opressor, e as sombras na sala ganhavam vida, contorcendo-se como se tivessem vontade própria.

“Eu sabia que algo estava errado desde o início”, Marcos disse, com voz trêmula. “Esse restaurante... ele está amaldiçoado. Foi aqui que ela morreu.”

Laura olhou para ele, confusa. “Quem morreu? O que você está falando?”

Imagem feita por Inteligência Artificial 
Marcos começou a explicar, mas sua voz falhava, como se as palavras estivessem sendo arrancadas dele. “Ela... ela era minha namorada. Há anos. Mas... ela morreu, Laura. Ela morreu no Dia dos Namorados... e sua alma ainda está aqui. Ela nunca foi embora.”

Laura sentiu um frio profundo no coração. Ela olhou para a boneca, agora com os olhos virando-se lentamente em sua direção, como se estivesse observando-a, esperando algo. Marcos gritou, e antes que pudesse se mover, a boneca saltou da caixa, caindo pesadamente no chão.

Nesse momento, uma risada baixa e sádica ecoou pelas paredes. Laura não conseguiu mais distinguir entre a realidade e o pesadelo. A boneca começou a se mover sozinha, deslizando pelo chão em direção a ela, e uma presença fria e malevolente tomou conta do restaurante.

Marcos tentou correr, mas as sombras o agarraram, puxando-o para uma escuridão sem fim. Laura sentiu que também estava sendo engolida pela mesma escuridão, mas conseguiu se soltar por um momento, saindo pela porta dos fundos. Quando olhou para trás, o restaurante estava vazio. As luzes estavam apagadas, e a névoa tomou conta de tudo.

Ela não sabia como, mas naquele momento, Laura soubera: o Dia dos Namorados nunca mais seria o mesmo.

E, ao olhar para a boneca que agora estava em sua mão, ela percebeu que havia algo ainda mais terrível à espreita – o nome dela estava escrito na boneca, e ela sabia que, agora, estava marcada.

A escuridão a havia encontrado.

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